sábado, 11 de agosto de 2007

Educação do brasileiro na web

Antes de começar o post, gostaria de esclarecer que não sou anti-brasileiro. Muito pelo contrário: acredito que somente com a auto-crítica é possível evoluir. Somente com a análise e devida crítica é possível encontrar os erros e então consertá-los. Quem critica, se preocupa!

Uma introdução

Quem acompanhou os jogos do Pan-americano Rio 2007 deve ter notado a "falta de respeito" da torcida brasileira ao vaiar de forma insistente qualquer atleta que não fosse brasileiro. Os aplausos só apareciam em duas situações: quando era a vez do atleta brasileiro jogar, ou quando o atleta estrangeiro errava.

Era constrangedor assistir à entrega de medalhas: fosse ouro, prata ou bronze, muitas vezes a torcida vaiava a entrega da medalha ao atleta estrangeiro. Alguns veículos de imprensa chegaram a publicar notícias sobre o fato.

A indignação inicial nos faz simplificar demais a justificativa para este fato: "ah, é a falta de educação do povo brasileiro". Porém, lendo a notícia da Reuters, compreendi que há sim uma explicação plausível que justifique o comportamento da torcida brasileira:

O brasileiro não é um povo com "tradição esportiva". Nosso esporte é o futebol e ponto. Não somos acostumados a assistir esportes como atletismo, ginástica rítmica, ginástica artística. E a culpa não é do brasileiro: não temos competições nacionais, não temos estádios com estrutura para isso, a mídia mostra apenas o futebol. Resultado: tratamos cada esporte do Pan como se estivéssemos em uma final do Brasileirão.

Além disso, é fácil observar que em competições internacionais o brasileiro é extremamente nacionalista e apresenta uma baixa auto-estima perante outros países.

O título do post é sobre web, não sobre Pan...

Esta grande introdução do post foi para exemplificar a falta de bom senso do brasileiro em uma área; naquele caso a esportiva. O que me preocupa agora é a falta de bom senso na web.

Muitas vezes visito fóruns e redes sociais estrangeiras na web, e me deparo com posts de brasileiros patriotas, buscando se auto-afirmarem em comunidades virtuais internacionais.

Um exemplo típico é o Orkut: muitos brasileiros não seguem regras básicas, como não escrever em português quando uma comunidade é classificada como língua oficial inglesa. Quando um estrangeiro critica este comportamento, o brasileiro já parte para os xingamentos pessoais.

Cheguei a acompanhar como observador algumas polêmicas do Orkut, como a comunidade "WTF A CRAZY BRAZILIAN INVASION", onde norte-americanos (até então a maioria no Orkut) discutiam o porquê do aumento significativo de brasileiros na rede social. Eis que muitos compatriotas não gostaram da proposta e partiram para o ataque: mensagens e mais mensagens com xingamentos pessoais e frases nacionalistas, como "we are the most friendly people in the word!"; ou então mensagens aos norte-americanos exigindo que aprendam português, já que sabemos o inglês deles.

Esta situação incentivou a criação da comunidade "Brasileiros: Vergonha do Orkut". O criador fez a seguinte descrição na página inicial da comunidade:

1-Porque alguns Brasileiros não conseguem respeitar regras básicas, são arrogantes e acham que porque são "a maioria no Orkut" podem falar português em qualquer comunidade? É legal ver gringo falando inglês em comunidades brasileiras ?

2-Porque alguns Brasileiros acham um absurdo quando vêem uma comunidade Anti-Brasil e não falam nada quando vêem uma Anti-EUA ou Anti-Argentina? No dos outros é refresco, né?

3-Porque alguns Brasileiros censuram, ameaçam e reprimem quem tem uma opinião negativa sobre o país deles? Será que é herança do pensamento da ditadura militar?

4-Porque alguns Brasileiros não conseguem ser civilizados no Orkut? Será que é porque o próprio país onde vivem não é civilizado?

No YouTube já observei muitas mensagens deste tipo, com frases de efeito sobre o Brasil, muitas vezes em letras maiúsculas (que na etiqueta da web, significa "gritar"). Lembro que em um vídeo norte-americano, um rapaz mostra as funcionalidades de um novo celular. Enquanto os usuários do mundo inteiro discutiam sobre o tema em questão (o novo celular), os brasileiros só comentavam sobre o casaco do rapaz, que tinha bordada a palavra Brasil. Alguns chegavam a escrever "BRASIL! BRASIL! WE ARE THE BEST!".

Como venho observando essa questão há anos, percebo que essa prática parece estar diminuindo; talvez porque no passado, pouquíssimos brasileiros possuíam internet, e assim desejavam mostrar ao mundo que aqui não é só floresta não: também temos cidades, tecnologia e internet.

Assim como no caso do Pan, tento buscar uma resposta mais técnica sobre esta situação. Talvez esteja relacionada à baixa auto-estima, ou à irreverência do povo brasileiro. Ainda não cheguei a uma conclusão, mas uma coisa é certa: a educação na comunicação deve partir de ambos os lados - do emissor e do receptor - ou então a comunicação deixa de ser comunicação para se transformar em uma troca de ofensas. Acredito que a tendência é diminuir cada vez mais esta situação, de acordo com o amadurecimento da web brasileira. Porém, enquanto não mudarmos nossa cultura, acredito que esta hostilidade ao estrangeiro nunca vai acabar. E para mudar a cultura de um povo, meus amigos, são precisos anos de trabalho árduo.

Mais do que demonstração de educação: uma boa conduta facilita a comunicação

Não escrevi tanto só para puxar a orelha dos brasileiros. Não somos os únicos que se comportam desta maneira na web. Acho que o importante neste post não é o puxão de orelha; o importante aqui é reforçar a idéia da necessidade de uma conduta na web.

Se seguirmos certas regras de conduta na web, não estaremos apenas demonstrando nossa educação; estaremos principalmente facilitando a comunicação entre as pessoas ao padronizarmos certos comportamentos (por exemplo: formas padrões de demonstrar emoções pela forma da escrita), ou ao proporcionarmos livre espaço para o outro na comunicação, criando um ambiente motivador para o debate de opiniões.


UPDATE
Na Copa América da Venezuela, os venezuelanos não só aplaudiam, como se vestiam com camisetas e outros adereços do Brasil e de outros países. Eles irão disputar com o Brasil a chance de sediar a Copa do Mundo de 2014, e se depender de hospitalidade do povo, mostraram que merecem sediar muito mais que a gente.

domingo, 6 de maio de 2007

A revolução da memória no jornalismo

Uma postagem aos jornalistas que não levam muita fé nesta revolução. Uma postagem um tanto massiva, longa, técnica, porém que trata de um assunto importante. Ou talvez um assunto que será importante em alguns anos.

Antes de começar a postagem, pergunto: você lembra quais foram as promessas do prefeito de sua cidade nas últimas eleições?

Outra: Lula se emocionou ao ser diplomado presidente, e disse chorando que aquele era o primeiro diploma em sua vida. Isso é verdade? Voltaremos a tratar estas questões no final da postagem.

Memória: uma das características do jornalismo digital

Quem já estudou sobre jornalismo digital deve conhecer as características deste meio que o fazem ser superior, em algumas áreas, aos meios de comunicação tradicionais. Há vários estudos sobre estas características no meio acadêmico, e muitos deles listam algumas características como a hipertextualidade, a interatividade, a convergência de mídias etc.

Alguns autores apontam a memória no meio digital como uma característica muito importante, pois oferece possibilidades únicas, como espaço de armazenagem praticamente infinito e facilidade no acesso a essas informações armazenadas. Este é um exemplo interessante de memória: um site com grande parte das edições da "memorável" revista O Cruzeiro; porém é apenas um exemplo de memória do meio impresso utilizando-se o suporte digital.

A verdadeira revolução no jornalismo está em outro tipo de memória: a do armazenamento das informações estruturadas em bancos de dados. Por exemplo: uma notícia de um portal armazenada de forma estruturada, separados o título, o resumo, as palavras-chaves (tags) etc.

Porquê?

Num conceito muito simplificado, o banco de dados é uma estrutura digital que armazena dados de forma tabulada, e cada novo registro é identificado (como se fosse um endereço). Imagine assim: um conjunto de tabelas, onde cada linha é uma notícia.

Ex.1: Cada linha é uma notícia, com um identificador (ID).

Existem softwares que fazem operações básicas nestas tabelas, sendo que quatro são principais: inclusão, exclusão, modificação e seleção de dados (ex.: numa tabela do Word, você pode inserir, apagar, modificar e ler dados). A possibilidade de "revolução" está principalmente na forma criativa de usar a operação de seleção destes dados (leia-se "saber cruzar as informações"). Os meios tradicionais não oferecem esta possibilidade.

Assim, é possível associar automaticamente a notícia atual com todas as milhares de notícias inseridas anteriormente, e então construir narrativas contextualizadas de forma nunca vista antes.

Exemplos, por favor!

Um exemplo simples é o site da Folha Online, que no final de cada matéria oferece o recurso chamado "Leia mais", onde são listados automaticamente os links das últimas notícias relacionadas ao tema em questão. Já na BBC Brasil são oferecidas listas de links específicos sobre cada personagem que participa da matéria.

Nenhum jornalista criou estes links: eles foram gerados automaticamente, por um software capaz de cruzar dados em um banco de dados.

Isso é revolução?

Não, é apenas uma evolução muito significativa; porém há possibilidades de se revolucionar utilizando a memória baseada em bancos de dados; mas para isso é preciso abusar mais da criatividade.

O uso criativo da operação de seleção no banco da dados possibilitaria criar redes (ou caminhos) de leituras relacionadas, satisfazendo a necessidade da contextualização plena da notícia; necessidade esta que o leitor gostaria de satisfazer.

A teoria é sempre bonita... mas e na prática?

Ok, vamos listar algumas possibilidades (entre inúmeras).

Você ainda lembra daquelas perguntas que fiz no início da postagem? Pois bem, várias vezes li reportagens de jornais que listam promessas de políticos não realizadas após três anos de governo. Na última vez que li, a reportagem marcava com um "V" cada proposta realizada, e com um "X" as não realizadas.

Se o brasileiro não lembra em qual deputado votou nas eleições passadas, lembraria de todas as promessas do prefeito?

Neste caso, ficamos dependentes da boa vontade dos jornalistas para realizarem reportagens sobre o assunto. Ficamos dependentes da capacidade do jornalista pesquisar as promessas, analisar a realidade e comparar estas informações. Porquê devemos depender disso? Talvez porque não tenhamos em casa grandes armários repletos de arquivos com a história política da cidade, do estado e do país; e se tivéssemos, não teríamos tempo para pesquisar.

Pois bem: sites que estruturam suas notícias em banco de dados poderiam muito bem fazer este trabalho todo, e a qualquer momento, basta realizar rápidas pesquisas automatizadas em seu banco de dados recheado de dados. Podemos relacionar a notícia sobre um protesto pela construção de uma ponte com a notícia de três anos atrás, quando o prefeito prometeu construí-la.

E se, numa destas operações da Polícia Federal contra a corrupção, como a Hurricane ou a Navalha, aparecer o nome de algum político que já tinha participado de algum escândalo há 15 anos atrás? Lembraríamos de sua história, do fato político em que ele se envolveu no passado? Lembraríamos dos atuais políticos que também se envolveram naquele fato antigo? Uma pesquisa automatizada no banco de dados poderia relacionar os nomes com os fatos, com as notícias armazenadas há anos.

Cada notícia poderia render uma rede de informações relacionadas, rede esta que infelizmente não é criada nos sistemas de notícias atuais. A criatividade está justamente na forma como apresentar estas redes, e não apenas apresentar uma lista de notícias que possuem o mesmo tema.

Mas afinal, o que o primeiro diploma do Lula tem a ver com tudo isso?

É apenas um exemplo. Na época, nenhum jornalista teve a boa vontade de procurar em seus arquivos se Lula já possuía outro diploma. Dependentes deles, ficamos sem saber que Lula já possuía diploma do Senai como Torneiro Mecânico, e claro, de Deputado Federal por São Paulo.

Conclua esta postagem-tese gigante, por favor

O importante desta postagem é saber que os bancos de dados "recheados" com anos de informações podem modificar o comportamento do leitor frente às notícias. O leitor passivo passa a ser também um autor ativo, pois pode criar suas redes de leituras, formando notícias muito mais contextualizadas e, até mesmo, abstrair novas informações (não publicadas) com suas associações. Afinal, essa é uma das técnicas que os jornalistas utilizam para obter novas informações: associar informações já existentes e assim abstrair conclusões lógicas.


UPDATE
Iuri - o futurólogo
Podem anotar: num futuro mais distante, além das fusões e compras de websites e empresas, haverá grandes negociações de bancos de dados entre empresas - sejam compras, fusões, joint venture, ou até mesmo "aluguéis" de bancos de dados. Imagine um site especializado em música começar a publicar notícias sobre teatro. Uma ótima estratégia seria pagar para ter acesso ao banco de dados do maior site especializado em teatro no país. "Bancos de dados especializados", como são as revistas.

domingo, 22 de abril de 2007

A web "mandando" na TV

Mês passado eu estava assistido ao jogo do meu time na TV, quando no intervalo foram veiculados dois anúncios: um do Volkswagen Gol e outro do Itaú Seguros. Foram os únicos anúncios entre as duas inserções do "Show do Intervalo", da Rede Globo.

O que me chamou a atenção foi que, nos dois únicos anúncios, ocorreu uma situação interessante: os dois foram baseados na cultura oriunda da web. Antes de explicar cada caso, explico o porquê do "interessante". No começo, a mídia na web se baseava na cultura midiática vigente, ou seja, os veículos tradicionais de comunicação. Então se você acessava um site com banners animados, provavelmente encontraria nele referências culturais da TV, revistas, quadrinhos etc. Logo depois desta fase, a própria web começou a criar suas referências culturais; e a própria web dava um jeito de difundi-las em seu próprio espaço. Lembram do vídeo do Numa Numa? Foi criado "dentro da web" e virou uma referência cultural entre os internautas, surgindo dezenas de versões no YouTube.

Os dois anúncios na TV aberta indicam uma terceira fase, inversa à primeira: o amadurecimento da "cultura web" criou referências culturais tão fortes que a própria TV se baseou nesta cultura para criar seus produtos. E olhem que são grandes anunciantes em horário nobre do maior canal aberto do Brasil!

Vejamos eles:

O Gol é indestrutível

O anúncio do carro Gol é uma série que mostra várias situações difíceis (e absurdas) que só o Gol pode enfrentar. Neste exemplo que postei abaixo, é anunciado: "O Gol não passa pela lombada... a lombada foge do Gol"; em seguida acontece o quê? Um efeito visual faz a lombada fugir do Gol.



Uma versão de curta duração resume a campanha: uma bola de aço, pendurada em um guindaste, bate com força no carro e... a bola de aço se desmancha! É uma campanha bem humorada, porém não tão original. Vejamos o porquê: um carro forte, "destemível", indestrutível, amedrontador, que enfrenta situações impossíveis e absurdas... que carro é este? Só pode ser o carro do Chuck Norris! As referências a este clichê da internet são claras. A piada mais batida da web virou referência para anúncio na TV. E para tirar a dúvida desta minha suposição, entrei no site da agência que criou o anúncio, e eles mesmo afirmam que a campanha foi baseada em Chuck Norris.

Liga pro mecânico que ele vem flutuando, em stop-motion!

Se o YouTube começou cheio de trechos de vídeos copiados da TV, parece que este fluxo começa a se inverter. O outro anúncio, do banco Itaú, é claramente baseado em um vídeo do YouTube.




O anúncio utiliza uma técnica de stop-motion bem interessante. Após assistir ao anúncio aqui postado, assista a este interessante vídeo do YouTube. Você pode pensar "ok, os dois vídeos utilizam a mesma técnica stop-motion. E daí?". Sim, porém não é só o mesmo recurso técnico que se assemelha; os estilos de movimentos são muito semelhantes, às vezes idênticos. A versão que eu vi na TV é um pouco diferente (não achei na web ainda), lembro que aparece um mecânico de carro flutuando com as pernas curvadas, exatamente como no vídeo do YouTube. E o mais importante: o anúncio foi lançado pouco tempo após o popular vídeo do YouTube, algo assim como... o tempo necessário para planejamento, criação, produção e veiculação.

Para finalizar, gostaria de esclarecer que isso não é uma crítica negativa (pelo jeito inquisidor que escrevi, pareço estar condenando as agências, mas não estou). Isto não é ruim, pelo contrário! Que ótimo podermos observar que a web está madura, a ponto de criar uma cultura própria e influente nos meios de comunicação tradicionais. Afinal, a web é eu, é você, somos nós.


UPDATE
Após escrever o rascunho desta postagem, assisti a mais um anúncio na TV, digamos, suspeito: a TIM Celular lançou uma campanha que mostra um rapaz dançando de uma forma esquisita em vários locais do Estado do Rio Grande do Sul (achei na web uma versão para o Estado do Paraná, devem existir mais versões para outros Estados). São mostrados belos cenários de várias cidades do Estado, porém sempre com a presença do dançarino esquisito. Bem, achei a idéia do anúncio muito semelhante a do vídeo Where the Hell is Matt?, atualmente um dos 50 vídeos mais vistos na história do YouTube. O que você acha?

A primeira vez

Olá pessoal, este é minha primeira postagem.

Segundo o site Technorati, atualmente (22/04/2007) existem aproximadamente 71 milhões de blogs no mundo. Hoje crio mais um. Colaboro, assim, para aumentar seu leque de opções de leitura na web. Então, mãos à obra, pois segundo aquela estatística citada, vai ser bem trabalhoso passar este blog de uma mera opção para uma escolha certa de leitura.

E o que encontraremos aqui?

Bem, sou um jovem jornalista apaixonado pela informática. Pretendo deixar aqui minhas impressões sobre o mundo da informática, da web e da tecnologia em geral, mas sempre que possível com um pezinho na comunicação (afinal, sou formado em Comunicação Social). Espero que aproveitem!

Obs.: 71 milhões de blogs... hã, isso não é nada!